Fritar ovos na fila do Centro Cultural ou queimar dinheiro em cena durante vários minutos não caracterizam uma performance.
OS HAPENNINGS:
O happening pode ser classificado como uma forma de fazer teatro, pois apresenta a tríade: há atuante, público e texto. Ele se associaria à ideia de um free theater, se apoiando no experimental, no anárquico, na busca de outras formas. Aqui interessa mais o processo, o rito, a interação, e menos o resultado final. Existe uma ruptura na chamada convenção teatral, pois não existe uma preocupação com a encenação, nem com a representação (o que o difere da performance). O público não sabe o que vai acontecer, o limite entre o ficcional e o real é muito tênue.
Para o compositor John Cage, os happenings eram "eventos teatrais espontâneos e sem trama", dificilmente algo era previsível. O termo foi utilizado pela primeira vez por Allan Kaprow, em 1959. Ambos foram ícones da live art, do happening e da performance.
Para Cage, arte era tudo e tudo era arte, não havendo mais distinção entre o ato artístico e o ato banal. Interessava fundir, relacionar, contagiar, em ato de síntese, todas as artes “especializadas” e “autônomas” [...] Os happenings foram, inclusive, decorrência natural desse processo: neles qualquer material - de jornais a automóveis -, qualquer espaço - de apartamentos a cidades -, podia participar da obra. (CANONGIA, 2005, p.25).
Exemplo de happening idealizado por Kaprow
Em sua tese de mestrado, o artista José Mario Peixoto Santos relata um happening produzido por Kaprow:
"Eat (1963-34) é um outro exemplo de happening produzido por Kaprow. O artista ofereceu diversos alimentos como maçãs, sanduíches, bebidas, entre outras iguarias, aos visitantes de um local decadente, escolhido pelo artista no Bronx. Com essa ação, Allan Kaprow pretendeu explorar os processos de degustação e digestão realizados pelo organismo humano, criando uma metáfora para o espaço de apresentação do happening como um organismo vivo, capaz de digerir os participantes durante o percurso pelos interiores da arquitetura artisticamente modificada."
-> Renato Cohen esclarece que o que caracteriza a passagem da performance para o happening é o aumento de preparação em detrimento do improviso e da espontaneidade, e o aumento da "esteticidade". Performances como as de Laurie Anderson ou do grupo Ping Chong são extensamente preparadas e pouco improvisadas. É claro que comparada com o teatro, a performance de fato se realiza, em geral, em lugares alternativos, com poucas apresentações e com muito maior espaço para improvisações.
Abaixo um quadro com as diferenças estruturais entre o teatro, o happening e a performance, retirado do livro "Performance como Linguagem", do próprio Cohen, na pág. 135.
TEATRO (Modelo Estético) | FREE ART (Happening e Performance) | |
Elemento | Ator | Performer |
Sustentação | Representação | Live Art |
Fio Condutor | Narrativo | Colagem / ritual |
Construção | Personagem | Idiossincrasia |
Técnicas | Lógica de Ação Hierarquização | Livre associação indeterminação Uso livre: objetos – espaço - tempo |
Ênfase | Dramaturgia Crítica social-política | Plástico, terapêutico Discurso poético |
Forma de Estruturação | Os artistas se juntam para uma peça. Cada um tem sua carreira | Artistas se juntam em grupos. Trabalho em colaboração |
Local de Apresentação | Edifícios-teatro | Museus-galerias-edifícios-teatro,etc |
Tempo de Apresentação | Temporada | Evento |
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